Por Carolina Farias, Líder do Dia de Doar e integrante do Movimento por uma Cultura de Doação.
Em 2012, um grupo de ‘ongueiros’ se reuniu para pensarem juntos formas de apoiar na construção de um Brasil mais doador. Descrevendo de forma extremamente simplória, é assim que nasceu o Movimento por uma Cultura de Doação (MCD): com atores importantes do setor social buscando caminhos para popularizar o tema.
Na mesma época, também surgia pelo mundo uma galera que estava observando movimentos sociais de massa e encontrou uma oportunidade de usar toda a potência das redes sociais para promover a doação, unindo todo o mundo para juntos falar em uma só voz em prol desta causa. Contracultura mesmo, usando o Novo Poder que emana do povo para contrapor o consumo desenfreado que a Black Friday promovia. Deram nome à ideia: #GivingTuesday (ou "terça-feira da doação").
Uma ideia 'casou' com a outra, a Abcr - Associacao Brasileira De Captadores De Recursos entrou com pedido oficial para trazer a ideia para o Brasil e o MCD encontrou um caminho interessante para tornar popular mensagens relacionadas à doação, todo esse movimento em 2014. Um ano antes, com a liderança do Instituto de Doar, já havia sido realizada a primeira edição do Dia de Doar, ainda em caráter informal.
Engajamento na veia!
Como já ouvi de diversas referências do Terceiro Setor, a popularização da data começou com ativações durante a participação em eventos e reuniões, com ativistas perguntando com empolgação para todo tipo de pessoa se já conheciam o Dia de Doar, convidando a doar e compartilhar nas suas redes sociais para participar desse grande movimento. Naquela época, ninguém conhecia o que era isso, mas a empolgação de quem levava a mensagem inspirava a todo mundo para apoiar a ideia.
A empolgação foi uma grande aliada do Dia de Doar nesses últimos 10 anos. Para engajar pessoas de norte ao sul do Brasil foram desenvolvidas diversas ferramentas de comunicação que apoiaram e ainda apoiam a promoção com alegria um dia de doar. Primeiro de tudo, a hashtag (#) diadedoar para unir as mensagens em um único canal. Em seguida, uma logomarca para unir a todos os participantes da campanha: uma logo verde e amarela com referências às cores principais da bandeira brasileira.
E não para por aí! O Dia de Doar ganhou uma música própria, de autoria do músico sorocabano Seadi, um jingle chiclete super animado (quem nunca ficou cantarolando o trecho “de coração em coração, de doação em doação” na cabeça?), ganhou também um amplo apoio para disseminação entre institutos, fundações e organizações da sociedade civil (OSCs), vídeos promocionais e o reconhecimento dentro do setor social.
Colaboração x Competição
Como resultado natural da importância de colaboração entre diversos parceiros, a partir de 2016 surge no núcleo do #GivingTuesday uma nova forma de promover a generosidade: as campanhas comunitárias. Provando que não existe necessidade de competirmos entre organizações sociais, a proposta da campanha comunitária é unir forças e promover em uma só voz a doação entre causas e territórios.
No primeiro ano, foram mapeadas 6 campanhas comunitárias para promoção do Dia de Doar, nas cidades de Esteio (RS), Limeira (SP), Lorena (SP), Petrópolis (RJ), Sorocaba (SP) e Volta Redonda (RJ). Esse número cresceu para 8 em 2017, atingindo as cidades de Caicó (RN), Cascavel (PR), Curitiba (PR), Limeira (SP), Maringá (PR), Natal (RN), São José dos Campos (SP) e Sorocaba (SP). Uma das ferramentas utilizadas para tornar a data uma tradição em seus territórios é através de uma legislação que oficializa no calendário municipal o Dia de Doar, o que já aconteceu nas cidades de Limeira (SP) e São Paulo (SP) com data oficializada já em 2016.
O engajamento foi crescendo e novos ativistas se uniram ao time de lideranças comunitárias do Dia de Doar, comprometidos em promover a data em suas cidades, bairros, Estados e causas, chegando a uma média de 30 campanhas envolvidas entre 2018 e 2021, a maioria engajando parceiros locais para participarem em conjunto do movimento, semeando filantropia comunitária de uma forma muito prática e objetiva.
Em 2021, a união de parceiros e doadores trouxe uma nova roupagem ao movimento. Foi produzida uma campanha de comunicação modelo que poderia ser replicada por todo o país para ativação prática do Dia de Doar, trazendo a oportunidade de organizações sem fins lucrativos de todos os portes promoverem a mensagem com as mesmas referências. E sim, foi um sucesso!
Movimento criando corpo para disseminar a ideia
O movimento cresceu, se popularizou e a festa da generosidade no Terceiro Setor se ampliou, passando de 9 milhões de pessoas alcançadas pela #DiaDeDoar em 2016 para 23 milhões em 2021. Também em 2021, foi lançado o 1º Edital de Apoio à Filantropia Comunitária, para investimento em materiais de comunicação, foram selecionadas 20 lideranças para receber R$ 400 cada uma.
O crescimento atraiu pessoas interessadas em doar para ampliar ainda mais o alcance da ideia. Foi assim que a partir de 2022, o Dia de Doar conta com uma liderança contratada para planejar, executar, engajar e traçar estratégias para que a data possa chegar em mais regiões brasileiras, movimentar mais doações e entrar no calendário cultural do brasileiro, assim como a Black Friday, Outubro Rosa e festas juninas.
Diante deste cenário, 2022 foi um ano muito importante para o Dia de Doar. A campanha de comunicação e símbolos se solidificam nas aplicações Brasil afora, é contratada uma consultoria para dar suporte ao planejamento da campanha em colaboração com diversos atores e parceiros, novamente é aberto um edital de apoio às campanhas comunitárias (desta vez com mais dinheiro disponível) e realiza-se um roadshow de apresentação das ferramentas por 29 cidades brasileiras, em todas as regiões do país. O resultado foi imediato: de 30 campanhas comunitárias em 2021, o número subiu para 72 em 2022.
"O que esperar para o Dia de Doar deste ano?"
Peço licença a você, que está lendo este artigo, para mudar a condução deste texto para primeira pessoa pois gostaria de comentar que fui indagada diversas vezes com essa pergunta e confesso que não sei responder somente na lógica do crescimento em números, mesmo que ele seja importante para darmos corpo a algo que espalha pelo vento.
Nós traçamos diversas metas que temos nos dedicado a alcançar, como crescimento no número de pessoas alcançadas, quantidade de empresas promovendo campanhas entre colaboradores e clientes, manter e dar suporte às campanhas comunitárias já existentes, quanto desejamos que o Brasil movimente em valores de doação, assim como quantos parceiros queremos ter engajados na campanha.
Entretanto, firmar metodologias de acompanhamento de algo que é tão orgânico e descentralizado é um dos maiores desafios que temos na disseminação do Dia de Doar, e temos dedicado esforços e longas horas de conversa com a Fundação José Luiz Egydio Setúbal e para podermos encontrar mecanismos de mensurar o tamanho do movimento no país.
Estamos otimistas com os números: de acordo com as campanhas ativas mais as novas campanhas selecionadas na 3ª edição do Edital de Apoio à Filantropia Comunitária, esperamos ao menos 80 coalizões pelo Brasil. Mas não é só isso!
Para dizer o que eu honestamente espero para o Dia de Doar, não só deste ano (mas seria massa demais se já tivéssemos chegado lá!), meu desejo é muito simples, e só vamos alcançar quando todos juntos estivermos falando numa só voz sobre ele.
Dias desses estava voltando de uma palestra e quando fui buscar meu filho na escola com o bottom do Dia de Doar preso na camiseta. Ao vê-lo a professora dele, sem saber com o que eu trabalho, olhou pra mim e comentou: “É verdade, está chegando o Dia de Doar".
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