Por Cássio Aoqui, sócio-fundador da ponteAponte, e integrante do Movimento por uma Cultura de Doação
Publicado originalmente no Vozes do MCD
Chego ao fim desta prazerosa jornada de reflexões tratando de um tema cada vez mais central para a filantropia brasileira – e, a meu ver, transversal a todas as diretrizes do Movimento por uma Cultura de Doação: a confiança.
Evidências disso não faltam. Por exemplo, o banco suíço UBS, parceiro da ponteAponte há quase uma década, divulgou recentemente uma lista de 10 tendências mundiais para a filantropia (link nos comentários). Sem surpresas, a #1 foi a “filantropia baseada em confiança”. Outrossim, em todos os últimos eventos sobre cultura de doação de que participei, ouvi algo como: “A chave para a mudança está na confiança”.
Trata-se de uma pequena palavra que carrega no seu bojo um mundo de significados. E é por isso que, incomodados, temos tentado cada vez mais aterrissar esse conceito, subjetivo por natureza, por meio de práticas objetivas em todos os nossos projetos de qualificação crítica do investimento social e da filantropia. Afinal, o que é essa tal de confiança e como materializá-la para além do discurso?
Assim, nos últimos meses, temos nos debruçado em parceria com pesquisadores da Alemanha em um framework de aplicação prática desse conceito, tendo em vista cinco critérios centrais de monitoramento para organizações financiadoras, a saber: comprometimento, propósito público, relevância, desempenho e accountability. Cada um deles desdobrando-se em subcritérios e dimensões reflexivo-avaliativas – neste momento, nossa equipe está trabalhando no aprimoramento do modelo à luz do contexto brasileiro.
Entre abril e maio próximos, organizaremos um seminário voltado especificamente para o tema, em que apresentaremos o framework como uma possível ferramenta de apoio a decisões no campo da filantropia – que ainda tem uma longa e larga avenida para se aprimorar (mesmo que o discurso muitas vezes seja o da necessidade de “profissionalização” da sociedade civil organizada e não de si próprio).
Falaremos sobre pontos que consideramos basais, entre os quais: autonomia, assimetria de poder, demanda por recursos institucionais, burocracia, construção de relacionamento e parceria para além da contratação de fornecedores, inexistência de uma cultura de confiança dentro das próprias organizações financiadoras (e em suas equipes) e, tal como expressamos em nossa própria teoria de mudança, “confiança acima do controle e entre todas as partes envolvidas”.
Esperamos assim contribuirmos para esse tema urgente, que, como muito bem disse a querida Graciela Selaimen no podcast lançado nesta semana pelo GIFE: “É uma conversa que não se esgota, é permanente e constante; à medida que as relações vão se qualificando, a conversa sobre confiança precisa se reinventar e se renovar”. (https://bit.ly/3p7nndv)
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