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Editais existem para gerar mais soluções do que ônus

Atualizado: 11 de ago. de 2022



Texto construído com informações do Fórum da Comunidade do MCD



Incentivadas pela propagação do termo ESG no mundo corporativo, cada vez mais as empresas – associadas ou não a fundos privados de investimento social – procuram organizações da sociedade civil para executar ações que possam ser vinculadas às suas estratégias de impacto socioambiental e aos relatórios de responsabilidade. Os editais são de extrema importância para o financiamento das organizações, mas, quando não pensados de forma estratégica, podem contribuir com o desgaste das mesmas, gerando riscos financeiros e de imagem. É importante que exista um equilíbrio no emprego de recursos – humanos e de tempo – para a captação, sem que isso prejudique a atividade-fim da OSC.


O tema foi pauta de um debate na comunidade do Movimento por Uma Cultura de Doação (MCD), a partir da avaliação de um dos editais compartilhados no grupo de whatsapp.

“Cada um [edital] tem um formato diferente, o que exige uma grande dedicação da equipe envolvida. Considerando o tempo necessário para a inscrição e a probabilidade de aprovação, em muitos não vale a pena participar”, compartilha Andrea Gomides, fundadora e presidente do Instituto Ekloos.


“Eu considero os editais como uma boa prática para investimento social, com grande potencial para promover democratização de acesso aos recursos e transparência; mas se não forem bem planejados, podem gerar mais custo para sociedade (no processo de inscrição) do que benefícios aos projetos apoiados”, complementa Thiago Alvim, diretor executivo e sócio fundador do Prosas, plataforma para gestão do investimento na área social.


Para uma das integrantes, submeter OSCs a um processo extenuante de inscrição prejudica o ecossistema da filantropia e desestimula a inscrição, pois cada vez mais elas sofrem com falta de recursos, o que, por sua vez, impacta nos recursos humanos disponíveis e em diversos outros fatores essenciais para o fortalecimento dessas entidades e ampliação de sua atuação.


“A gente aqui [na organização] despriorizou inscrições em editais. Não participo mais, a não ser que seja muito estratégico ou nosso relacionamento com o financiador seja mais próximo. Custo/retorno não fecha nunca”, destacou uma das pessoas que participaram do debate.


Para Joana Mortari, diretora da Associação Acorde e membro do comitê coordenador do MCD, um ponto igualmente importante é desenvolver oportunidades que promovam a diversidade de organizações apoiadas.


“A lógica de mercado afeta o terceiro setor. O retorno de marca maior das organizações ‘de grife’ faz com que o ciclo de doações gire em torno delas. Isso não é bom para o setor em geral”, explica, destacando as dificuldades enfrentadas por organizações que estão começando. “O caminho da construção da sustentabilidade de um OSC é longo e é muito pior no começo. As OSCs menos ‘famosas’ não deveriam ter que viver de migalhas”, diz.


Na opinião de Kiko Afonso, diretor-executivo da ONG Ação da Cidadania, as organizações de maior porte têm um importante papel para melhorar esse cenário e precisam estar atentas a isso, atuando como canal de apoio a entidades menores, uma vez que acabam recebendo boa parte das doações decorrentes de investimento social privado (ISP). “A gente atua assim na Ação, como um ‘proxy’ de recursos para as entidades da nossa rede”, destaca o dirigente.


Outro caminho possível, apontado na Comunidade do MCD, é a realização de pré-inscrição na abertura de editais, estas inscrições são formas mais simplificadas de demonstrar interesse no tema e permitem aos financiadores realizar uma primeira seleção das organizações capacitadas para desenvolver o projeto proposto.


No quesito diversidade, quem reforça a importância de promover o tema por meio de editais bem estruturados e inclusivos é o educador social e produtor cultural João Sales, co-fundador e secretário executivo da Rede Potências Periféricas. A rede, que foi uma das beneficiadas no segundo edital do Fundo BIS, é uma das formas que ele encontrou para democratizar esse acesso, por meio da quebra de códigos e a superação de possíveis barreiras de entendimento entre esses atores (organizações sociais, coletivos e financiadores).


“Enquanto sujeito periférico, me conecto com os dois lados do debate, coletivos e organizações dos territórios acessam com baixa frequência prêmios e chamadas via editais, e são vários os motivos, entre eles, a falta de empatia que existe em parte das seleções focadas em resultados que não privilegiam a diversidade e o desenvolvimento real dos territórios”, afirma.

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