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Amar e mudar as coisas

Por Marcelo Nonohay, fundador da MGN  e integrante do Movimento por uma Cultura de Doação 

No meu cotidiano de trabalho, tenho contato com inúmeras pessoas que tomam decisões ou implementam ações de filantropia. Filantropia, você sabe, significa o “profundo amor à humanidade”. Voltando ao meu dia a dia, uma das palavras que mais escuto em reuniões é “transformação”. A palavra transformação vem do latim e significa “fazer mudança de forma, de aspecto”. Querer mudar o que está aí e não funciona, ou funciona para excluir e gerar desigualdade está no cerne do trabalho de qualquer pessoa na área social.


À medida que enfrentamos desafios cada vez mais complexos em nossas sociedades, a necessidade de uma filantropia transformadora torna-se mais evidente do que nunca. No entanto, vivemos em um paradoxo interessante, onde muitos gestores de ações filantrópicas expressam o desejo de abandonar abordagens tradicionais em favor de intervenções mais profundas e sistêmicas, ao mesmo tempo em que continuam a operar dentro de paradigmas assistencialistas e de curto prazo.


Em minha experiência trabalhando com empresas no campo social, tenho observado esse paradoxo de perto. Por um lado, há um reconhecimento crescente da necessidade de uma abordagem mais holística e colaborativa para enfrentar os problemas sociais de nossa época. Gestores de ações filantrópicas falam sobre a importância de envolver todas as partes interessadas, adotar uma visão de longo prazo e cultivar relações baseadas na confiança mútua.


No entanto, por outro lado, muitas vezes vejo essas mesmas pessoas continuarem a praticar uma forma de filantropia que não condiz com esses ideais. Elas ainda adotam uma abordagem de "soluções prontas", trabalham em ciclos de doações de curto prazo e subestimam o conhecimento e a capacidade dos parceiros locais em resolver os problemas de suas próprias comunidades.


O que precisamos entender é que não há nada de errado com os caminhos tradicionais da filantropia. Existem problemas conhecidos e antigos que exigem soluções imediatas e eficazes para aliviar seus sintomas. Mobilizações de arrecadação e distribuição de recursos continuam a desempenhar um papel fundamental em muitas dessas situações.


No entanto, as crises complexas que enfrentamos atualmente exigem abordagens mais sofisticadas. As empresas que já estão mais avançadas em suas práticas de filantropia têm a oportunidade de liderar essa mudança. Elas podem explorar formas de atuar de maneira mais disruptiva, colaborativa e focada em mudanças sistêmicas na raiz dos problemas.


Isso significa cocriar soluções com diversas partes interessadas na comunidade, adotar abordagens de longo prazo e investir na capacitação e fortalecimento das organizações locais. Significa também abandonar a mentalidade de "salvador" e reconhecer que as comunidades têm o conhecimento e a capacidade de transformar suas próprias realidades.


Em última análise, o caminho para uma filantropia verdadeiramente transformadora não é simples. Requer uma mudança fundamental na forma como pensamos sobre o impacto social e no modo como nos relacionamos com as comunidades que servimos. Mas é um desafio que vale a pena enfrentar, pois só assim poderemos construir um mundo mais justo, inclusivo e sustentável para todas as pessoas.





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