Erika Mota Santana, Gestora do Programa de Voluntariado na Sabesp, integrante do Comitê Gestor do Conselho Brasileiro de Voluntariado Empresarial, professora Universitária na Unicesumar, idealizadora do conceito Inteligência Solidária e integrante do Movimento por uma Cultura de Doação.
Publicado originalmente no Vozes do MCD*
Será que as pessoas já pararam para pensar na quantidade de informações que recebem e como transformam tudo isso em exemplos práticos na sua rotina de hábitos? Ou, no caminho contrário, na quantidade de informações que reproduzem e que se tornam exemplos para outras pessoas?
Somos condutores de exemplos, que podem ser bons ou não, esse é o verdadeiro poder que temos. Contagiar o mundo ao redor com boas práticas pode ser a grande sacada para transformar possíveis futuros.
Resolvi escrever sobre esta pauta como uma forma de provocação para algo sutil que, não percebemos, mas é fundamental desde o início da vida de cada um. Aprendemos a andar, comer, falar, ler e escrever a partir de exemplos, vistos em nossas casas, escolas, com amigos, pelos meios de comunicação e demais experiências que vivemos.
A natureza de nossos exemplos vem da infância, mas permeia nossa vida até o último respiro. A aprendizagem profunda das crianças é desenvolvida com base na observação do comportamento e na constatação das consequências das ações de outras pessoas. Crescemos, e os exemplos permanecem.
Com base nesse contexto, a reflexão trazida aqui expressa a importância de sermos exemplo, o ato de doar tem que ser compartilhado, celebrado, divulgado para outras pessoas. É a velha história: o que os olhos não veem, o coração não sente. Temos que mostrar aos olhos para tocar o coração. Convidar pessoas a participar do ato de doação, sejam elas filhos, familiares, vizinhos, amigos e até estranhos, é o caminho para fortalecer a humanização e a empatia ao próximo.
Certa vez, fui convidada para uma consultoria em uma empresa de transportes metroviários, e um documento interno me chamou a atenção. Era um demonstrativo da quantidade de suicídios na linha do trem, mas os números eram mantidos em sigilo, pois quando havia qualquer tipo de divulgação, essas ocorrências dobravam nos dias seguintes. Não nos damos conta do poder que existe naquilo que vemos, sentimos, ouvimos... e assim aprendemos com outros exemplos.
Querendo ou não, somos observados, testados ou desafiados todos os dias. Nossos atos, palavras ou omissões ecoam no meio em que vivemos. O que podemos transmitir a respeito de nós para o mundo é importante, para nós e para o outro.
Outra situação que vivi, fruto de um exemplo, foi referente a uma amiga, que acabara de se separar. Ela me ligou aos prantos querendo se desfazer de cerca de cem bichinhos de pelúcia com os quais havia sido presenteada durante o período de relacionamento. No ano anterior, quando fui convidada a conhecer um abrigo de crianças, presenciei um casal doando todos os presentes que haviam trocado durante o relacionamento. Compartilhei, então, essa ideia com minha amiga, que não hesitou em doar tudo ao abrigo.
Sendo assim, o conselho é: faça mesmo todo o bem que puder. Mas também convide, compartilhe, engaje, divulgue, torne esse assunto pauta de uma roda de conversa com amigos, até na mesa de happy hour, mas seja exemplo.
Meu exemplo maior foi minha mãe, a quem dedico este texto, com muito carinho e gratidão, por me permitir, através do seu exemplo, ter o poder de doar.
* O Vozes do MCD é um espaço onde integrantes do Movimento podem compartilhar experiências e reflexões sobre doação. As opiniões expressas nos textos publicados não necessariamente refletem o posicionamento oficial do MCD.
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